Clarice Lispector- Contos #2 O Grande Passeio (Audiobook)

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  • čas přidán 28. 05. 2015

Komentáře • 53

  • @camilabriel9392
    @camilabriel9392 Před 5 lety +72

    Acredito que sentir pena ou dó, ou "um soco no estômago", não tenha sido a intenção. A velha passeava, livre de suas memórias, de sua vida. Não que seja um peso. Mas certamente a leveza de sentir-se só e individual neste mundo, passeando e sorrindo com sinceridade, sem motivo, sem falar nem ouvir, isso é livre. As intenções e sentimentos dos mais jovens, que ainda carregam suas vidas, memórias e sentires, isso já não preocupava ou contaminava a serenidade de quem não há mais com o que se preocupar. Nem consigo mesma haveria de se preocupar. O fim da vida, visto da maneira mais serena possível, sem sentir que era.

    • @shayanealves295
      @shayanealves295 Před 3 lety +3

      É realmente tão profundo , que eu fechei os olhos pra tentar viver esse passeio também

  • @MrRomeu30
    @MrRomeu30 Před 4 lety +38

    Acompanhar Clarice Lispector é como navegar num rio cheio de vertentes incertas e inesperadas, exatamente como a vida, onde a única certeza é a morte.

  • @Iesuluxvitae
    @Iesuluxvitae Před 5 lety +18

    Essa senhorinha pela sua condição de semi-miséria, dor da perda dos dois filhos, da culpa por ter gritado com filha, andarilha pelo mundo, sem um lar, sempre procurando sabe lá o quê.... é a imagem perfeita da nossa condição de filhos procurando o Pai/ Mãe.... o final é um soco no estômago de tanta dó

  • @LuizdeCastro06
    @LuizdeCastro06 Před 8 lety +38

    Um dos meus favoritos. Perdoando Deus e os trechos mais intimistas de Paixão Segundo G.H. são semanalmente revisitados por mim. Cada leitura uma nova descoberta.

    • @mauriticunha
      @mauriticunha Před 5 lety +1

      Ha algum audiobook dos trechos intimistas da paixão segundo gh???

  • @Marcelo-Caruccio
    @Marcelo-Caruccio Před 4 lety +21

    Tenho 52 anos, nunca tinha ouvido ou lido nada dessa escritora. Estou apaixonado. Que conto lindo! Isso sim é usar a língua portuguesa como ela deve ser usada! 😍😍😍😍

    • @marisapandrade2271
      @marisapandrade2271 Před 4 lety

      Que bom que vc a conheceu agora, eu desde jovem sempre li Clarice Lispector, amo muito.

  • @mateuscastro1154
    @mateuscastro1154 Před 4 lety +5

    É lindo, incomodante, comovente, triste e sereno... muito sereno

  • @perlalibonati7567
    @perlalibonati7567 Před 3 lety +5

    Sensacional, já conhecia o conto e estou surpresa.... Acho que não temos tanta sensibilidade fora do que nos é proposto.... A proposta social é ler livros.... Então achamos que só se entende, sente e interage com uma história... Se a lermos..... Começando a sentir agora, que a experiência é diferente pra cada um..... Mas essa história em particular, me comoveu ouvi lá, fez me entender com o intelecto e o coração ouvi la, visto que já a conhecia..... Estou emocionada... Que narração maravilhosa. Esso é uma bela contadora de histórias ou estórias....

  • @Iesuluxvitae
    @Iesuluxvitae Před 6 lety +18

    Descobrindo essa grande escritora somente agora aos 43 anos

  • @rosimarcastro4341
    @rosimarcastro4341 Před 3 lety +3

    Muito bom,parabéns pra todos envolvidos 👏👏👏

  • @katiaferreiraorganizer3594

    42 anos
    Começando a descobrir clarice Lispector
    Nunca é tarde pra começar a se interessar por coisas boas não é mesmo?! Rs

  • @historianopedalo7934
    @historianopedalo7934 Před 3 lety +3

    A senhorinha já eetava esquecida das coisas e ao ser levada para outra cidade seus sentidos foram lhe trazendo lembranças do passado coisas que ela não se lembrava mais. Ouvir/ler Clarice Lispector é entrar dentro de uma viagem cheia de sensações.

    • @julianafelipe6355
      @julianafelipe6355 Před rokem

      Por isso que o ambiente sempre
      vence. Nem um lugar é igual ao outro porque as pessoas transmitem energias diferente.

  • @isabellamoura1183
    @isabellamoura1183 Před 3 lety +16

    Acompanhe a leitura 💖:
    Era uma velha sequinha que, doce e obstinada, não parecia compreender que estava só no mundo. Os olhos lacrimejavam sempre, as mãos repousavam sobre o vestido preto e opaco, velho documento de sua vida. No tecido já endurecido encontravam-se pequenas crostas de pão coladas pela baba que lhe ressurgia agora em lembrança do berço. Lá estava uma nódoa amarelada, de um ovo que comera há duas semanas. E as marcas dos lugares onde dormia. Achava sempre onde dormir, casa de um, casa de outro. Quando lhe perguntavam o nome, dizia com a voz purificada pela fraqueza e por longuíssimos anos de boa educação: - Mocinha.
    As pessoas sorriam. Contente pelo interesse despertado, explicava: - Nome, nome mesmo, é Margarida.
    O corpo era pequeno, escuro, embora ela tivesse sido alta e clara. Tivera pai, mãe, marido, dois filhos. Todos aos poucos tinham morrido. Só ela restara com os olhos sujos e expectantes quase cobertos por um tênue veludo branco. Quando lhe davam alguma esmola davam-lhe pouca, pois ela era pequena e realmente não precisava comer muito. Quando lhe davam cama para dormir davam-lhe estreita e dura porque Margarida fora aos poucos perdendo volume. Ela também não agradecia muito: sorria e balançava a cabeça.
    Dormia agora, não se sabia mais por que motivo, no quarto dos fundos de uma casa grande, numa rua larga cheia de árvores, em Botafogo. A família achava graça em Mocinha mas esquecia-se dela a maior parte do tempo. É que também se tratava de uma velha misteriosa.
    Levantava-se de madrugada, arrumava sua cama de anão e disparava lépida como se a casa estivesse pegando fogo. Ninguém sabia por onde andava. Um dia uma das moças da casa perguntou-lhe o que andava fazendo. Respondeu com um sorriso gentil: - Passeando.
    Acharam graça que uma velha, vivendo de caridade, andasse a passear. Mas era verdade.
    Mocinha nascera no Maranhão, onde sempre vivera. Viera para o Rio não há muito, com uma senhora muito boa que pretendia interná-la num asilo, mas depois não pudera ser: a senhora viajara para Minas e dera algum dinheiro para Mocinha se arrumar no Rio. E a velha passeava para ficar conhecendo a cidade. Bastava aliás uma pessoa sentar-se num banco de uma praça e já via o Rio de Janeiro.
    Sua vida corria assim sem atropelos, quando a família da casa de Botafogo um dia surpreendeu-se de tê-la em casa há tanto tempo, e achou que assim também era demais. De algum modo tinham razão. Todos lá eram muito ocupados, de vez em quando surgiam casamentos, festas, noivados, visitas. E quando passavam atarefados pela velha, ficavam surpreendidos como se fossem interrompidos, abordados com uma pancadinha no ombro: “olha!” Sobretudo uma das moças da casa sentia um mal-estar irritado, a velha enervava-a sem motivo. Sobretudo o sorriso permanente, embora a moça compreendesse tratar-se de um ricto inofensivo. Talvez por falta de tempo, ninguém falou no assunto. Mas logo que alguém cogitou de mandá-la morar em Petrópolis, na casa da cunhada alemã, houve uma adesão mais animada do que uma velha poderia provocar.
    Quando, pois, o filho da casa foi com a namorada e as duas irmãs passar um fim-de-semana em Petrópolis, levou a velha no carro.
    Por que Mocinha não dormiu na noite anterior? A idéia de uma viagem, no corpo endurecido o coração se desenferrujava todo seco e descompassado, como se ela tivesse engolido uma pílula grande sem água. Em certos momentos nem podia respirar. Passou a noite falando, às vezes alto. A excitação do passeio prometido e a mudança de vida, de repente aclaravam-lhe algumas idéias. Lembrou-se de coisas que dias antes juraria nunca terem existido. A começar pelo filho atropelado, morto debaixo de um bonde no Maranhão - se ele tivesse vivido no tráfego do Rio de Janeiro, aí mesmo é que morria atropelado. Lembrou-se dos cabelos do filho, das roupas dele. Lembrou-se da xícara que Maria Rosa quebrara e de como ela gritara com Maria Rosa. Se soubesse que a filha morreria de parto, é claro que não precisaria gritar. E lembrou-se do marido. Só relembrava o marido em mangas de camisa. Mas, não era possível, estava certa de que ele ia à repartição com o uniforme de contínuo, ia a festas de paletó, sem falar que não poderia ter ido ao enterro do filho e da filha em mangas de camisa. A procura do paletó do marido ainda mais cansou a velha que se virava com leveza na cama. De repente descobriu que a cama era dura.
    - Que cama dura - disse bem alto no meio da noite.
    É que se sensibilizara toda. Partes do corpo de que não tinha consciência há longo tempo reclamavam agora a sua atenção. E de súbito - mas que fome furiosa! Alucinada, levantou-se, desamarrou a pequena trouxa, tirou um pedaço de pão com manteiga ressecada que guardava secretamente há dois dias. Comeu o pão como um rato, arranhando até o sangue os lugares da boca onde só havia gengiva. E com a comida, cada vez mais se reanimava. Conseguiu, embora fugazmente, ter a visão do marido se despedindo para ir ao trabalho. Só depois que a lembrança se desvaneceu, viu que esquecera de observar se ele estava ou não em mangas de camisa. Deitou-se de novo, coçando-se toda ardente. Passou o resto da noite nesse jogo de ver por um instante e depois não conseguir ver mais. De madrugada adormeceu.
    E pela primeira vez foi preciso acordá-la. Ainda no escuro, a moça veio chamá-la, de lenço amarrado na cabeça e já de maleta na mão. Inesperadamente Mocinha pediu uns instantes para pentear os cabelos. As mãos trêmulas seguravam o pente quebrado. Ela se penteava, ela se penteava. Nunca fora mulher de ir passear sem antes pentear bem os cabelos.
    Quando enfim se aproximou do automóvel, o rapaz e as moças se surpreenderam com seu ar alegre e com os passos rápidos. “Tem mais saúde do que eu!”, brincou o rapaz. À moça da casa ocorreu: “E eu que até tinha pena dela”.
    Mocinha sentou-se junto da janela do carro, um pouco apertada pelas duas irmãs acomodadas no mesmo banco. Nada dizia, sorria. Mas quando o automóvel deu a primeira arrancada, jogando-a para trás, sentiu dor no peito. Não era só por alegria, era um dilaceramento.
    O rapaz virou-se para trás: - Não vá enjoar, vovó!
    As moças riram, principalmente a que se sentara na frente, a que de vez em quando encostava a cabeça no ombro do rapaz. Por cortesia, a velha quis responder, mas não pôde. Quis sorrir, não conseguiu. Olhou para todos, com olhos lacrimejantes, o que os outros já sabiam que não significava chorar. Qualquer coisa em seu rosto amorteceu um pouco a alegria da moça da casa e deu-lhe um ar obstinado.
    A viagem foi muito bonita.
    As moças estavam contentes, Mocinha agora já recomeçara a sorrir. E, embora o coração batesse muito, tudo estava melhor. Passaram por um cemitério, passaram por um armazém, árvore, duas mulheres, um soldado, gato! letras - tudo engolido pela velocidade.
    Quando Mocinha acordou não sabia mais onde estava. A estrada já havia amanhecido totalmente: era estreita e perigosa. A boca da velha ardia, os pés e as mãos distanciavam-se gelados do resto do corpo. As moças falavam, a da frente apoiara a cabeça no ombro do rapaz.
    Os embrulhos despencavam a todo instante.
    Então a cabeça de Mocinha começou a trabalhar. O marido apareceu-lhe de paletó - achei, achei! o paletó estava pendurado o tempo todo no cabide. Lembrou-se do nome da amiga de Maria Rosa, daquela que morava defronte: Elvira, e a mãe de Elvira até era aleijada. As lembranças quase lhe arrancavam uma exclamação. Então ela movia os lábios devagar e dizia baixo algumas palavras.
    As moças falavam: - Ah, obrigada, um presente desses eu rejeito!
    Foi quando Mocinha começou finalmente a não entender. Que fazia ela no carro? como conhecera seu marido e onde? como é que a mãe de Maria Rosa e Rafael, a própria mãe deles, estava no automóvel com aquela gente? Logo depois acostumou-se de novo.
    O rapaz disse para as irmãs: - Acho melhor não pararmos defronte, para evitar histórias. Ela salta do carro, a gente ensina aonde é, ela vai sozinha e dá o recado de que é para ficar.
    Uma das moças da casa perturbou-se: receava que o irmão, com uma incompreensão típica de homem, falasse demais diante da namorada. Eles não visitavam mais o irmão de Petrópolis, e muito menos a cunhada.
    - É sim, interrompeu-o a tempo antes que ele falasse demais. Olha, Mocinha, você entra por aquele beco e não há como errar: na casa de tijolo vermelho, você pergunta por Arnaldo, meu irmão, ouviu? Arnaldo. Diz que lá em casa você não podia mais ficar, diz que na casa de Arnaldo tem lugar e que você até pode vigiar um pouco o garoto, viu. .
    Mocinha desceu do automóvel, e durante um tempo ainda ficou de pé mas pairando entontecida sobre rodas. O vento fresco soprava-lhe a saia comprida por entre as pernas.
    Arnaldo não estava. Mocinha entrou na saleta onde a dona da casa, com um pano contra pó amarrado na cabeça, tomava café. Um menino louro - decerto aquele que Mocinha deveria vigiar - estava sentado diante de um prato de tomates e cebolas e comia sonolento, enquanto as pernas brancas e sardentas balançavam-se sob a mesa. A alemã encheu-lhe o prato de mingau de aveia, empurrou-lhe na mesa pão torrado com manteiga. As moscas zuniam.
    Mocinha estava fraca. Se bebesse um pouco de café quente talvez passasse o frio no corpo.
    ( continua) 👇

    • @isabellamoura1183
      @isabellamoura1183 Před 3 lety +8

      A mulher alemã examinava-a de vez em quando em silêncio: não acreditara na história da recomendação da cunhada, embora “de lá” tudo fosse de se esperar. Mas talvez a velha tivesse ouvido de alguém o endereço, até num bonde, por acaso, isso às vezes acontecia, bastava abrir um jornal e ver que acontecia. É que aquela história não estava nada bem contada, e a velha tinha um ar sabido, nem sequer escondia o sorriso. O melhor seria não deixá-la sozinha na saleta, com o armário cheio de louça nova.
      - Preciso antes tomar café, disse-lhe. Depois que meu marido chegar, veremos o que se pode fazer.
      Mocinha não entendeu muito bem, pois ela falava como gringa. Mas entendeu que era para continuar sentada. O cheiro de café dava-lhe vontade, e uma vertigem que escurecia a sala toda.
      Os lábios ardiam secos e o coração batia todo independente. Café, café, olhava ela sorrindo e lacrimejando. A seus pés o cachorro mordia a própria pata, rosnando. A empregada, também meio gringa, alta, de pescoço muito fino e seios grandes, a empregada trouxe um prato de queijo branco e mole. Sem uma palavra, a mãe esmagou bastante queijo no pão torrado e empurrou-o para o lado do filho. O menino comeu tudo e, com a barriga grande, agarrou um palito e levantou-se: - Mãe, cem cruzeiros.
      - Não. Para quê?
      - Chocolate.
      - Não. Amanhã é que é domingo.
      Uma pequena luz iluminou Mocinha: domingo? que fazia naquela casa em vésperas de domingo? Nunca saberia dizer. Mas bem que gostaria de tomar conta daquele menino. Sempre gostara de criança loura: todo menino louro se parecia com o Menino Jesus. O que fazia naquela casa? Mandavam-na à toa de um lado para outro, mas ela contaria tudo, iam ver. Sorriu encabulada: não contaria era nada, pois o que queria mesmo era café.
      A dona da casa gritou para dentro, e a empregada indiferente trouxe um prato fundo, cheio de papa escura. Gringos comiam muito de manhã, isso Mocinha vira mesmo no Maranhão. A dona da casa, com seu ar sem brincadeiras porque gringo em Petrópolis era tão sério como no Maranhão, a dona da casa tirou uma colherada de queijo branco, triturou-o com o garfo e misturou-o à papa. Para dizer verdade, porcaria mesmo de gringo. Pôs-se então a comer, absorta, com o mesmo ar de fastio que os gringos do Maranhão têm. Mocinha olhava. O cachorro rosnava às pulgas.
      Afinal Arnaldo apareceu em pleno sol, a cristaleira brilhando. Ele não era louro. Falou em voz baixa com a mulher, e depois de demorada confabulação, informou firme e curioso para Mocinha: - Não pode ser não, aqui não tem lugar não.
      E como a velha não protestasse e continuasse a sorrir, ele falou mais alto: - Não tem lugar não, ouviu?
      Mas Mocinha continuava sentada. Arnaldo ensaiou um gesto. Olhou para as duas mulheres na sala e vagamente sentiu o cômico do contraste. A esposa esticada e vermelha. E mais adiante a velha murcha e escura, com uma sucessão de peles secas penduradas nos ombros. Diante do sorriso malicioso da velha, ele se impacientou: - E agora estou muito ocupado! Eu lhe dou dinheiro e você toma o trem para o Rio, ouviu?
      volta para a casa de minha mãe, chega lá e diz: casa de Arnaldo não é asilo, viu? aqui não tem lugar. Diz assim: casa de Arnaldo não é asilo não, viu!
      Mocinha pegou no dinheiro e dirigiu-se à porta. Quando Arnaldo já ia se sentar para comer, Mocinha reapareceu: - Obrigada, Deus lhe ajude.
      Na rua, de novo pensou em Maria Rosa, Rafael, o marido. Não sentiu a menor saudade.
      Mas lembrava-se. Dirigiu-se para a estrada, afastando-se cada vez mais da estação. Sorriu como se pregasse uma peça a alguém: em vez de voltar logo, ia antes passear um pouco. Um homem passou. Então uma coisa muito curiosa, e sem nenhum interesse, foi iluminada: quando ela era ainda uma mulher, os homens. Não conseguia ter uma imagem precisa das figuras dos homens, mas viu a si própria com blusas claras e cabelos compridos. A sede voltou-lhe, queimando a garganta. O sol ardia, faiscava em cada seixo branco. A estrada de Petrópolis é muito bonita.
      No chafariz de pedra negra e molhada, em plena estrada, uma preta descalça enchia uma lata de água.
      Mocinha ficou parada, espreitando. Viu depois a preta reunir as mãos em concha e beber.
      Quando a estrada ficou de novo vazia, Mocinha adiantou-se como se saísse de um esconderijo e aproximou-se sorrateira do chafariz. Os fios de água escorreram geladíssimos por dentro das mangas até os cotovelos, pequenas gotas brilharam suspensas nos cabelos.
      Saciada, espantada, continuou a passear com os olhos mais abertos, em atenção às voltas violentas que a água pesada dava no estômago, acordando pequenos reflexos pelo resto do corpo como luzes.
      A estrada subia muito. A estrada era mais bonita que o Rio de Janeiro, e subia muito.
      Mocinha sentou-se numa pedra que havia junto de uma árvore, para poder apreciar. O céu estava altíssimo, sem nenhuma nuvem. E tinha muito passarinho que voava do abismo para a estrada. A estrada branca de sol se estendia sobre um abismo verde. Então, como estava cansada, a velha encostou a cabeça no tronco da árvore e morreu.

    • @wellingtonlessa96
      @wellingtonlessa96 Před 3 lety +2

      😍😍😍✌️✌️✌️👏👏👏

  • @alexsandrolinhares7470
    @alexsandrolinhares7470 Před 8 lety +3

    gosto muito de Clarice Lispector

  • @alexsandrolinhares7470
    @alexsandrolinhares7470 Před 8 lety +2

    oi gostei muito desse audiolivro .manda mais .muito bommmmmmm.......

  • @alanafrederick655
    @alanafrederick655 Před 4 měsíci

    Aracy Balabanian deu um show de interpretação narrando estes contos❤ aos amigos que gostaram da experiência indico ouvurem os poemas de Fernando Pessoa na voz de Paulo Autran, muito bom tambem!

  • @depaiparafilhas7973
    @depaiparafilhas7973 Před 7 lety +4

    Todos os contos muito bom

  • @lenirabrum9381
    @lenirabrum9381 Před 2 lety +1

    Obrigada ❤️👏🏼👏🏼

  • @angeloalbertoUrso2859
    @angeloalbertoUrso2859 Před 5 lety +4

    Clarice by araci eternas ambas

  • @biaferreira4927
    @biaferreira4927 Před 4 lety +1

    Meu Deus que maravilha

  • @valtercaetanodasilva2856
    @valtercaetanodasilva2856 Před 2 lety +1

    nossa senti um vazio muito grande .muito deprê. gosto de sonhar com coisas diferentes, mesmo que de errado.quando começou já deduzi o final da estoria

  • @mauriticunha
    @mauriticunha Před 5 lety +1

    Lindooooo 😍😍😍😍

  • @carlosmessa4657
    @carlosmessa4657 Před 4 lety

    Me apaixono todos os dias por ela

  • @tiago-xv5yt
    @tiago-xv5yt Před 6 lety

    Muito bom!

  • @conceicaodosanjos6031
    @conceicaodosanjos6031 Před 6 lety +3

    são histórias bem antiga

  • @gimatheus0
    @gimatheus0 Před 4 lety +1

    Esse final foi um susto ☹

  • @conceicaodosanjos6031
    @conceicaodosanjos6031 Před 6 lety

    eu digo história

  • @aloisiodecastro7096
    @aloisiodecastro7096 Před 3 lety

    A-cinza-das-cinzas-das-horas

  • @conceicaodosanjos6031
    @conceicaodosanjos6031 Před 6 lety +2

    pq não se fala sobre o idoso e sim o velho ou velha

    • @julianacamposvictor3755
      @julianacamposvictor3755 Před 5 lety +16

      Porque na época que o conto foi escrito , talvez não se usasse tantos eufemismos. Velho era velho mesmo, e não essa tal " Melhor idade/ terceira idade/ idoso etc
      Prefiro assim, para que palavras bonitas e atitudes que mostram o contrário.
      Vivemos em uma época bem hipócrita, onde quase nada é chamado pelo nome, e paradoxalmente nunca fomos tão agressivos.

    • @Liza-ry6bu
      @Liza-ry6bu Před 3 lety +2

      @@julianacamposvictor3755 concordo com você. Tenho 54 anos e estou envelhecendo. Quero ser velha. Sem essa de "melhor idade" (odeio esse termo), nem "idosa"... quero envelhecer em paz e sem frescuras.

    • @julianafelipe6355
      @julianafelipe6355 Před rokem

      ​@@Liza-ry6bu 3😂❤

  • @CarlosEduardo-ng6xl
    @CarlosEduardo-ng6xl Před 4 lety +1

    DEVASTADO

  • @conceicaodosanjos6031
    @conceicaodosanjos6031 Před 6 lety +1

    e parece que não tinha respeito com as pessoas já naquele tempo

    • @idspfc
      @idspfc Před 6 lety +3

      Conceição Dos Anjos e poesia, o uso do termo “velha” não foi usado em sentido pejorativo. É poesia em sentido puro.

    • @julianafelipe6355
      @julianafelipe6355 Před rokem

      Cuidado nem tudo que parece é... no sentindo como vc intende as coisas.