REFÚGIO - Poesia Gaúcha

Sdílet
Vložit
  • čas přidán 12. 09. 2024
  • Interpretação do poema "REFÚGIO", de autoria de Antônio Augusto Ferreira e Leandro de Araújo. Intérprete Leandro de Araújo e ao violão Jader Leal. Poema participante da III Tertúlia Maçônica da Poesia Crioula, em 24 de agosto de 2010.
    REFÚGIO
    Antônio Augusto Ferreira e Leandro de Araújo
    Quando me abanco pro mate
    no galpão que tenho em casa,
    abro a janela pro Norte
    de onde vem o sol melhor.
    O Norte me conta muito,
    além de servir de rumo
    como nível, como prumo
    a quem levanta uma casa.
    O Norte é minha certeza
    mesmo andando para o Sul.
    Nesse galpão que é refúgio
    - templo de preces rimadas -
    já entoaram responso
    Aureliano, Silva Rillo,
    Juca Ruivo, Luiz Menezes
    e Jaime Caetano Braum.
    Esses astros do Rio Grande
    vieram cantar seus salmos,
    - peregrinos dos gaúchos,
    que descansam, sete palmos.
    No galpão tenho por sócio
    um cusco quase parente,
    meu companheiro de cisma
    nas horas de chimarrão.
    Enrodilhado, ressoa
    o ronco do meu cachorro,
    que me rosna por socorro
    quando alguém quebra o silêncio
    em hora de reclusão.
    O calor do mate amargo
    aquece o corpo cansado.
    Meus duendes do passado
    se organizaram de novo
    e vêm brincar na fumaça
    de meu cigarro crioulo
    que volta e meia se apaga
    fazendo mapas no ar.
    Se eu consigo olhar pra dentro
    com os olhos de cacimba,
    ébrio de uivo dos ventos,
    pessoas de alma tão simples
    vêm chegando a este lugar,
    entram no meu devaneio
    e se acomodam na roda
    onde vou pra meditar.
    O pai-de-fogo é um albergue
    que abriga ao calor comum
    tanta gente, tanto sonho
    que sobe nas labaredas
    para o céu de cada um.
    Estão aqui ao meu lado
    os fantasmas dos que amei,
    e creio que ainda os amo,
    e não lhes toco num dedo
    com receio de perdê-los,
    que não posso disfarçar.
    Minha alma quer voar
    e só a custo a retenho,
    porque não tenho certeza
    se estou de fora ou incluso,
    aprisionado nas asas
    em sonho de pátria ou pago,
    um menor outro mais largo,
    mas que são os alicerces
    que me dão sustentação.
    Meu galpão urbano e bueno
    me acolhe e não pergunta
    se sou um homem do campo
    ou apenas transeunte
    de passagem demorada
    pelo gradil da cidade.
    É certo que eu estou certo
    levando a vida que levo.
    O campo é pra quem tem verde
    na lonjura da retina,
    e o refúgio se torna templo
    pra os campos dentro da gente
    mesmo em alma citadina.
    Me ensinou o professor
    que a liberdade é uma pomba
    quase cansada, no campo
    onde o progresso chegou.
    Há campeiro que só sabe
    a mesma lida do gado
    de trinta anos atrás,
    que não lhe serve senão
    pra repetir a rotina,
    e o futuro determina
    que as mudanças se farão.
    Da gente do meu Rio Grande,
    os que ficaram pra fora
    precisam ir à cidade
    para tocar seu negócio
    ou pro colégio dos filhos.
    Os que não tinham preparo
    pra viver noutro lugar,
    pagando a água que bebem,
    ficaram, sem outra escolha,
    entre o ir e o voltar.
    Hoje retorno ao meu mate
    no galpão de minhas cismas,
    solito, sim, mas com séculos
    de história e de memória
    de meu avô, tão ilustre,
    de meu pai, sempre tão bom.
    Aqui dentro do galpão
    conheço quem foram eles,
    o quanto em sabedoria
    me trazem de outros mestres.
    Aprendiz de carne e espírito,
    eles falam e eu escuto,
    eu sou todo coração.
    O meu campo com que cismo
    não está tão longe assim,
    não tenham pena de mim,
    por enquanto esse galpão
    me supre as necessidades,
    e me separa do abismo
    dos precipícios de pedra
    nos cinturões da cidade.
    Ademais, o campo lindo
    com que sonho todo o dia
    pode não ser fantasia,
    quem sabe já venha vindo.

Komentáře • 7

  • @gambitecvideos
    @gambitecvideos Před 10 lety +2

    Poesia linda Justa e Perfeita!

  • @TheYURIGUSTAVO
    @TheYURIGUSTAVO Před 7 lety +2

    linda poesia, emocionante

  • @adrianoribeiro6390
    @adrianoribeiro6390 Před 11 měsíci +1

    que baita poesia..
    Leandro, recentemente declamei a poesia O Filho Varão, gostaria se fosse possível, se o amigo pudesse analisar o que posso melhorar... desde já, sou muito fã do seu trabalho..
    czcams.com/video/3pQhbEYUsNU/video.html

    • @bla.leandrodearaujo
      @bla.leandrodearaujo  Před 10 měsíci

      Boa noite, Adriano. Tudo bem? Que honra ver esse teu trabalho tão bonito com este poema que foi tão importante para mim. Achei uma interpretação belíssima! Parabéns!