O SORRO E A LUA - Poesia gaúcha

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  • čas přidán 30. 09. 2018
  • Poema participante da 23ª Sesmaria da Poesia Gaúcha, de Osório, RS, em 29 de setembro de 2018. Autor Leandro de Araújo. Intérprete Wilson Araújo (premiado como 2º melhor intérprete). Violão Vladimir Guará.
    O SORRO E A LUA
    Leandro de Araújo
    A noite calma e serena
    Nos toca seus magros dedos.
    Vultos por entre as sombras
    Perambulando seus medos
    Onde as quietudes cortadas
    Pelas histórias contadas
    Revelam tristes segredos.
    Na boca da noite grande
    Se ouve gritos de socorro.
    Canto triste de urutau,
    Ao longe late um cachorro,
    Na grota se escuta forte
    Um berro com jeito de morte
    Por entre os dentes do Sorro¹.
    Cusco do mato, ladino,
    Ladrão e sobrevivente.
    Pro cordeiro ele é um lobo,
    Pra cachorrada um presente,
    Sestroso filho da fome
    Que traz astúcia no nome,
    Selvagem por acidente.
    Então vestiu-se de noite
    Portando presas de pua.
    Sentindo o cheiro do sangue
    E o gosto da carne crua,
    Passos macios no pasto,
    Vaqueano, sem deixar rastro,
    Na companhia da Lua².
    Lua cheia de dezembro
    É quase o mesmo que um sol.
    Na escuridão é um guia,
    Para o campeiro um farol,
    Seguia o Sorro quietita
    Jorrando sua luz bonita
    No campo como um lençol.
    O Sorro por solitário
    Reprovou a companhia.
    Não que temesse a Lua,
    Linda dama que o seguia.
    Remoeu-se de estranheza
    Ante a sublime beleza
    Que a luz da Lua continha.
    Perdoa-me, dona Lua,
    Mas tenho que lhe falar.
    Humilde bicho das trevas
    Uso o breu para caçar.
    Não sei porque me acompanhas
    Meus truques e minhas manhas
    Teu clarão vai estorvar.
    Lua manteve o silêncio.
    A mensagem compreendeu.
    Muda baixou os olhos
    Sob a nuvem se escondeu
    Aos poucos sumiu seu brilho
    E então o lobo caudilho
    Na escuridão se perdeu.
    Um novo dia passou
    E a noite rendeu-lhe a guarda.
    O Sorro, por seu instinto
    De caçador veste a farda
    E novamente a surpresa,
    Fora da grota a beleza
    Da luz da Lua lhe aguarda.
    Luz bonita! Sedutora!
    Com tons de azul e calor.
    Embrulhou entranhas do Sorro
    Com seu brilho encantador,
    Que então não sente mais fome
    O que sente tem outro nome,
    Outra forma e outra cor.
    O Sorro angustiado
    A cada noite que seguia
    Mais e mais queria a Lua
    Seu lume, sua companhia.
    Quando chovia, chorava,
    Na nova desesperava,
    No crescente, renascia.
    E a Lua ao longe lumia
    Sem uma palavra dizer.
    Mirava o Sorro minguando
    Zombando de seu sofrer.
    O bicho com a alma nua
    Olhava pra luz da Lua
    Sem saber o que fazer.
    Enlouquecido, prostrado,
    Sorro não dormia mais.
    Cordeiros já não caçava
    - virou chacota dos demais -
    Não entendiam seu tormento
    Muito menos o sentimento
    E o estrago que ele faz.
    O coração em pedaços.
    Alma charqueada de dor.
    Querer algo tão distante
    Fez do Sorro um sonhador.
    Então, aceitando a derrota,
    O Sorro voltou pra grota
    E quieto morreu de amor

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