Jayme Caetano Braun - Encontro Com Juca Ruivo

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  • čas přidán 5. 07. 2014
  • Virava de meio dia,
    tempo quente de mormaço.
    Quando pegava meu braço
    era o Nogueira Leria,
    índio que a gente aprecia,
    crioulo do cerne atona.
    Vinha rustindo carona
    no costado d'outro qüera.
    Era o Ruivo da tapera.
    Era o Ruivo da cordeona.
    Era o Ruivo que venero
    desd'as tropeadas da infância
    e que aprecio à distância
    com grande apreço sincero.
    Era o Ruivo quero-quero
    da tradição campechana.
    Era o Ruivo, a voz pampeana
    do canal das Missões.
    Era o pajé dos fogões
    com floreios na badana.
    Era o Ruivo da saudade,
    o passado vindo das eras
    olfateando primaveras
    no rumo da mocidade.
    Era o Ruivo de verdade
    mais sério que um Urutaú.
    O Ruivo cujo recau,
    entre as costuras dos bastos
    guarda as sementes dos pastos
    das querências do Jarau.
    Era o Ruivo do Umbú
    da tapera desquinxada.
    O Ruivo venta-rasgada
    dos trastes de couro cru.
    O Ruivo do Inhã-Quetru
    de coração abugrado
    que o fogão arrinconado
    lamenta alguém que se foi
    e só vê olho de boi
    onde sumiu o seu tostado.
    O Ruivo do Quaraí,
    que mamou no Garupá.
    O Ruivo do Boi Tatá
    e da petiça de Anvilha.
    O Ruivo do Ibicuí
    de gloriosas correrias.
    O cantor das Sesmarias,
    que o Rio Grande consagrou.
    A saudade se plantou
    junto à cruz do Malaquias.
    O Ruivo que o Aureliano,
    numa tarde, quase inverno,
    benzeu, num mate fraterno
    chimarreando mano a mano,
    enquanto o vento aragano
    pelas copas se arranchou
    e a labareda ondulou
    como cabelo de gringa
    que se atirou na restinga
    e, por amor, se afogou.
    O Ruivo que eu encontrei
    depois de tanto tropear,
    Sem as garras de domar
    com que de longe sonhei.
    o Ruivo de buena lei
    que simpatias deságua.
    Até na gaúcha mágoa
    demonstra grande fortuna.
    É quieto como laguna
    quando tem céus dentro dágua.
    Ah, Ruivo, bem imaginas,
    no teu instinto avoengo,
    as mágoas deste andarengo
    que vaga trançando esquinas
    sem umbús nem sina-sinas.
    Que mal o céu pode ver?
    Mas que anseia renascer
    numa gaita, nem que seja
    quando um broto de carqueja,
    um dia, quando volver.
    Juca Ruivo é, sem alarde,
    um guarda-fogo de angico.
    E o galpão de pára a xico
    quando esse teu astro arde.
    Eu quero dizer, mais tarde,
    andarengo payador,
    ao falar do verso-flor
    pra que todo mundo entenda:
    Juca Ruivo não é lenda,
    eu conheci esse cantor!

Komentáře • 15

  • @marciorochacottademello2684

    ÚNICO!!!

  • @germanocolla9242
    @germanocolla9242 Před 3 lety +1

    Como, todas do Jaime, linda por demais!

  • @josewalter3531
    @josewalter3531 Před 3 lety +2

    Já estou quase decorando este poema de tanto ouvi-lo .
    Daqui de Minas .

  • @dedecoclemoni5086
    @dedecoclemoni5086 Před 10 lety +8

    Bárbaro parceiro, foste feliz em postar esse poema , bah fazia horas q porcurava e nada

  • @eduardozacarias5504
    @eduardozacarias5504 Před 5 lety +2

    Dom:Jayme Caetano Braun.
    Aqui na terra escuitando,
    seus versos que são bonitos,
    da vontade de pular no Mouro,
    campo afora e dar um grito.
    Aqui, ouvindo a poesia,
    ao pé do veio borralho,
    mexendo o tronco de angico,
    braseiro que não termina,
    guarda fogo da existência.
    Lembro-me da minha querência,
    lá do interior da Argentina.
    Poeta Misionero: Eduardo Zacarias.
    facebook.com/groups/estribogaucho/ Venham todos..Serão bem-vindos.Obrigado a todos.

  • @GoergenFerramentaria
    @GoergenFerramentaria Před 9 lety +4

    Obrigado pisano Renan. É poesia de FUNDAMENTO.

  • @robfcab5509
    @robfcab5509 Před 5 lety +1

    Belíssimo!

  • @gallogrigo
    @gallogrigo Před 2 lety

    Jaime é um monstro!

  • @iagoperliz7959
    @iagoperliz7959 Před 6 lety +2

    Talvez a que mais me emociona entre tantas outras.

  • @marcosrosado3301
    @marcosrosado3301 Před 8 lety +3

    raridade ,muito boa payada desse professor!!

  • @antoniomartindepaularodrig3457

    Que poesia, este cara é soda. Pra quem entende, sabe o que falei. Para os que não entendem, faltou-me certamente maior expressividade.

  • @antoniomartindepaularodrig3457

    Destes, Deus faz e manda descer pra Terra dizendo; tchê vai lá e canta alma daquele povo. Ele vem trazendo já n'alma a força chucra que só o gaúcho entende. Por que? porque já nasceu gaúcho.

  • @dionatandasilvavieira2780

    Jayme Caetano braun é um professor dos gaúchos

    • @antoniomartindepaularodrig3457
      @antoniomartindepaularodrig3457 Před 5 lety

      Este poeta fala de Deus, do tempo da família, de Pátria, da mulher e do espírito. Foi alguém em sua maturidade profundamente humanista como nesta poesia. Com certeza, se juntarmos seus versos e estudarmos a essência de todos o incluiríamos como um dos expoentes máximos da literatura brasileira. Pena, pena que seu imenso talento tenha ficado tão regionalizado e às vezes apenas dentro do brete da cultura gaúcha. Deveríamos dar-lhe maiores espaços que os descampados sulista. Ele, em muitas vezes cantou reverentemente a essência da pátria brasileira. Ele poetiza à alma, ao coração e se assim o é, sua linguagem é atemporal.