#48 [série Orientações Políticas] Mariana Mortágua - Esquerda: uma visão para a economia e...

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  • čas přidán 12. 02. 2019
  • Mariana Mortágua é, como todos sabem, economista e deputada do Bloco de Esquerda.
    Foi uma conversa desafiante a vários níveis. Por um lado, claro, porque a convidada tem um pensamento político inegavelmente sólido (e por isso a convidei para o podcast). Por outro lado, porque a Mariana é provavelmente o convidado desta série de quem estou mais distante politicamente no que diz respeito a um das questões mais importantes em política: a liberdade económica - bem menos noutros aspectos, e por isso, aliás, é que ocupámos grande parte do tempo a discutir economia política.
    Durante esta intensa 1:20m, conversámos, então, sobre vários assuntos. Começamos por falar sobre a formação do pensamento político da convidada, que começou em ambiente familiar, através do pai, Camilo Mortágua, uma das principais figuras revolucionárias anti-salazaristas e a quem, aliás, regressámos durante a conversa, pois, eu não sabia, mas esteve ligado a um dos momentos mais conhecidos do PREC. Como disse, então, falámos muito de economia política, começando numa questão que para mim devia ser o elemento mais prioritário da política económica em Portugal: a procura, a todo o custo, de maior crescimento económico, de forma a libertarmo-nos de uma vez por todas do fado de andar sempre a discutir a forma de repartir entre todos um bolo de si demasiado pequeno. Do meu ponto de vista, a evidência empírica - que, acho, deve ter sempre mais importância do que os nossos valores - sugere claramente que países com maior liberdade económica tendem a ser mais desenvolvidos economicamente. A convidada, naturalmente, tem uma visão diferente, o que deu uma discussão muito interessante, durante a qual abordámos uma série grande de outros Tópicos: como por exemplo as causas da falta de competitividade da economia portuguesa, os méritos e deméritos dos mercados, alguns maus exemplos notórios que têm vindo nos últimos anos do mundo dos negócios em Portugal, a ‘financeirização da economia’ nas últimas décadas, a importância de ter grandes empresas nacionais, a (para mim) importância do empreendedorismo, o papel regulador do Estado, nomeadamente no mercado de trabalho, e ainda aquilo que a convidada vê como a ‘mercantilização crescente da sociedade’. Fora do mundo estrito da economia, falámos ainda dos problemas da Zona Euro e das políticas de austeridade, do conservadorismo social que também existe em alguns sectores da esquerda e, finalmente, de uma provocação que lancei à convidada: porque é que a esquerda não consegue traduzir numa hegemonia eleitoral persistente o predomínio cultural e intelectual que tipicamente tem, e o discurso focado na promoção de direitos?
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Komentáře • 10

  • @brunomartin2005
    @brunomartin2005 Před 2 lety

    "a procura, a todo o custo, de maior crescimento económico, de forma a libertarmo-nos de uma vez por todas do fado de andar sempre a discutir a forma de repartir entre todos um bolo de si demasiado pequeno. Do meu ponto de vista, a evidência empírica - que, acho, deve ter sempre mais importância do que os nossos valores - sugere claramente que países com maior liberdade económica tendem a ser mais desenvolvidos economicamente".
    Onde para o capital ? Onde param os reguladores ? Vejamos os bons exemplos dos países nórdicos. Alguns com regimes mistos, e bem definidos , trazem mais valias para todos os seus cidadãos. Exemplo o da Finlândia, em que a educação é totalmente pública e que funciona maravilhosamente bem.
    Nem a maior liberdade económica é sinónimo de mais e melhor poder para atrair mais capital e, por conseguinte mais empresas, mais emprego e melhores salários. De facto a procura de maior crescimento económico deve constituir um goal maior em todas as economias abertas , como é o caso da nossa.
    Com efeito, a nossa economia que já é o bastante aberta, pelo menos devia ser, para atrair mais e melhor capital - mais e melhor, sobretudo melhor, porque o problema parece, a meu ver, residir na qualidade desse capital - não tem trazido vantagens suficientes para a alavancar ao nivel das melhores economias da UE.
    Ao longo destas últimas décadas, >Portugal abriu o seu mercado o mais que pôde. Mais, seria impossível. Ou talvez não o suficiente, não o sabemos. Mas, que abriu isso sim. E, em relaçao às leis laborais, estas não são mais rígidas que da maioria dos nossos países parceiros da UE. E onde estão os resultados ?
    Enão o que pode estar na base deste "atraso" no desenvolvimento económico face aos recentes paises que nos ultrapassaram? São o caso da Pólonia, Hungria entre outros?
    E, doutra, a questão central que aqui o programa traz, a esquerda é antagonica desse desenvolvimento economico? É a antitese desse desenvolvimento?
    Aqui , José P. , meu amigo, que eu muito admiro, os liberais que tanto insistem na tecla que vê como saída unica deste "atraso" no desenvolvimento do nosso país a tão famigerada liberdade economica. Mais. Dizias tu que os paises com essa maior liberdade tendem a ser os mais desenvolvidos. Será?
    Ora, dois pontos essenciais que cumpre esclarecer . Primeiro, não é verdade que seja a liberdade economica como regime principal desse desenvolvimento o mais favoravel às economias abertas. Bem pelo contrario. A prova disso é o nosso pais. Temos efetivamente uma das maiores liberdades economicas da UE ( para não falar dos outros paises fora da UE) a orientar a nossa economia e vê o resultado. Somos dos paises da UE aquele com das maiores desigualdades sociais, com as consequencias que adiante posso falar. Uma sâ economia é o que se pretende seja para qualquer estado for. Entre os papeis que cabe às diferentes áreas do governo de um estado, o da economia é o de eliminar ( pelo menos mitigar ) os efeitos da sua abertura: diminuir, por exemplo, as desigualdades sociais e não as agravar. Uma sociedade com maior igualdade social tem de ter uma economia sã, com vitalidade sim, mas, sobretudo, um estado mais regulador , mesmo que isso signifique a presença de mais estado em tudo o que "mexe". E à medida em que as empresas passem a cumprir mais as leis laborais - e diga-se a abono da verdade são poucas as que a cumprem - o estado vai deixando o seu lugar para as empresas do setor privado. (isto acontece porque ao longo de mais de tres décadas as empresas tém tido uma grande liberdade economica - não esquecer que somos um povo que tem no seu passado recente uma ditadura e em que as pessoas viviam amedontradas com o regime de então; somos por definiçao um povo "domesticado" , no que isso possa significar o seu maior estreitamento para seguir as " ordens" sejam elas do governo ou dos empresários) - e o que vemos tem sido um estado regulador cada menos presente.
    Onde param os reguladores ? O que fazem para mediar os conflitos entre os demais agentes económicos.
    Onde para o capital ?
    Sabemos que há uma maior aceitaçao para o silogismo de que maior liberdade economica significa menos regulaçao e doutra maior fuga de capitais.
    Todos sabemos que os liberais pretendem é unica e exclusivamente uma maior liberdade economica para poder manobrar os mercados a seu bel-prazer. É esse o termo. Mais nada.
    Alias, e agora vistas as coisas do lado das ultimas eleiçoes, o porquê dos eleitores terem dado a maioria absoluta ao PS ( que eu aqui não estou de modo nehum a defender). Eis a explicaçao para esse sucesso do PS ( que o próprio AC e o seu partido não esperavam).
    Em sumula o país só sairá deste "buraco" , que todos ajuram a cavar", se e quando houver mais e melhores reguladores dos mercados a funionar pronta e eficazmente. A implementar medidas, decorrentes das atuais leis vigentes, com a maior eficiencia possivel. Mais. Medidas anticorrupçao. Por exemplo, combater ferozmente a corrupçao e as fugas de capitais.
    Por isso, JP, não é verdade que seja a prevalencia de mais liberdade economica nem os estados mais "libertários" desse ponto de vista, a serem os sinónimos mais seguros para mais desenvolvimento economico e ou social. Não, não o é, pelos menos assim como temos tido nos últimos anos na nossa sociedade.

  • @srkasabian
    @srkasabian Před 5 lety

    Bom episódio. É interessante que não exista consenso em relação à predominância de intelectuais de esquerda ou direita no espaço público, talvez por que eles não existam de todo, pelo menos no sentido estrito do termo. Com exceção de publicações como a revista LER ou o Diogo Ramada Curto no Expresso e o João Carlos Espada no Observador, existe muito pouca gente interessada (ou com liberdade) em distanciar-se do quotidiano e abordar um determinado tema do ponto de vista filosófico. Este podcast vem preencher esse vazio.

  • @rjckarddo28
    @rjckarddo28 Před 5 lety

    Excelente episódio. A Mariana Mortágua demorou a abrir o livro mas depois foi respondendo com mais fundamentação e menos respostas de amador. Apesar de discordar em geral do seu posicionamento político reconheço que foi uma óptima convidada. Contudo faltou talvez a questão sobre o que pode acontecer se uma empresa não for capaz de largar lastro. Não correrá o risco de afundar todos funcionários em vez de deixar cair uma pequena porção? Mas também entendo que a total libertação de obrigações das empresas poderia significar o descalabro. É a tal dificuldade de quadrar o círculo.

    • @Taggy00
      @Taggy00 Před 5 lety +1

      Obrigado, Ricardo. Um artigo desta semana da Economist, justamente sobre Socialismo, explicava bem (na minha opinião) como se começa a quadrar esse círculo: "Rather than shield firms and jobs from change, the state should ensure markets are efficient and that workers, not jobs, are the focus of policy."

  • @pmp1337
    @pmp1337 Před 2 lety +1

    A Mariana devia estudar mais os mercados financeiros. Porque concordo quando fala que as empresas não deveriam servir para distribuir dividendos. Curiosamente nos EUA, as empresas com maior cotação em bolsa distribuem dividendos muito baixos ou nulos. Por isso não pode culpar os mercados pela distribuição excessiva de dividendos. A culpa é mesmo de quem vota a distribuição dos mesmos. E no caso da Galp, o governo, que detém uma participação considerável(7.48% através da Parpública), votou sempre a favor. Até quando esteve coligado com o BE...

  • @joaocotrimdefigueiredo1077

    "O empreendedorismo é a desestruturação da relação laboral" e "a esquerda não tem um problema com o empreendedorismo". Hummm, pelo menos uma das duas é mentira.

  • @joaocotrimdefigueiredo1077

    Também achei irónica a nostalgia pela destruição ou perda de importância das grandes empresas portuguesas como a Cimpor, Quimigal ou Lisnave que foram construídas em ambiente de condicionamento industrial por grandes capitalistas (Mellos e Champallimaud, nestes casos) motivados pelo lucro, claro, mas também pelo gosto de deixar obra feita o que era óbvio para quem os conheceu, como foi o meu caso.