Mães ofensoras: Loucas? Más?

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  • čas přidán 5. 11. 2020
  • A maternagem é um fenômeno historica e culturalmente construído. Ou seja, cada sociedade distribui as tarefas de cuidados com as crianças de forma diferente. No Ocidente, a partir do século XVIII, esses cuidados foram atribuídos, cada vez mais, às mulheres paridoras. Ou seja, configurou-se um borramento ideológico que mistura a capacidade de procriar e a capacidade de cuidar. Cuidar é uma habilidade humana, mas tem sido atribuído desde então somente às procriadoras. Primeiro, tratou-se de convencer as mães a amamentarem, depois a cuidarem, educarem e, com os desserviços prestados pelas psicologias e pela psicanálise, no começo do século passado, a mãe foi considerada como a grande "responsável" pela personalidade ou estrutura psíquica do sujeito. As mulheres estão assoberbadas com tantas responsabilidades. Por outro lado, homens têm sido e são desresponsabilizados na paternidade, inclusive pelo Estado. Mulheres (sobretudo brancas) podem terceirizar esses cuidados, seja contratando outras mulheres (em geral, mulheres negras, como babás), seja colocando os filhos em creches. Quem mais paga a conta são as mulheres pobres (e em sua maioria, negras). Muitas delas são abandonadas material e afetivamente pelos genitores e precisam cuidar dos filhos, de modo que: não têm onde deixá-los para poderem trabalhar e ,se não trabalham, acabam sofrendo uma precariedade alimentar e material que afeta diretamente a elas e seus filhos. O Estado, e seus serviços, ao invés de atenderem de forma estrutural as necessidades dessa mulher, tem agido de forma punitiva. Ou seja, ao invés de garantir a existência de CRECHES para todas as crianças, afirma-se na cobrança de que as mulheres atendam a performance do cuidar e trabalhar, o que para a maioria é quase impossível. Será que a equipe psicossocial tem, nesse sentido, atuado como uma tecnologia de gênero a favor do Estado?
    Se uma mulher tem 3 filhos e não há creche onde deixá-los, nem uma rede social mínima de apoio, e principalmente, se os genitores homens não são em nada responsabilizados pelo cuidado, como trabalhar? Como levar um deles ao médico? Como ir ao mercado fazes compra? É necessário que políticas públicas sejam criadas para atender os direitos das HUMANAS: creche é um deles. Manutenção da distribuição de renda, que garanta seu bem estar e de sua prole, como o Bolsa Família também. Chance de voltar a estudar e ser integrada ao mercado de trabalho. Mas também: responsabilização dos homens genitores na paternidade.
    Nessa live, foram discutidas os encaminhamentos de mães ofensoras a um CREAS. Grande parte desses encaminhamentos se deram por conselheiros tutelares e por duas razões: negligência ou agressão. No formulário usado para isso, ficou evidente o julgamento da mãe "má": "tatuada", "tem muitos homens", "já usou droga". Pais raramente foram encaminhados: apenas quando faziam uso de drogas na frente da criança ou abusaram sexualmente da mesma. Assim, as mulheres são punidas quando NÃO FAZEM o que se supõe que deveriam fazer como mães e, também, quando fazem o que se considerada como inadequado (agressão). Já os homens são punidos apenas quando FAZEM coisas consideradas inadequadas. Isso aponta para uma naturalização, presente no Estado brasileiro, de que a responsabilidade dos cuidados com as crianças é da mulher mãe, o que precisa ser PROBLEMATIZADO e transformado. Na live, também foram apresentadas 3 casos de mulheres atendidas nessa condição, no CREAS.
    Convidada especial: Aline Xavier.

Komentáře • 37

  • @camiladiogoferreira7699
    @camiladiogoferreira7699 Před 3 lety +23

    Tenho 33 anos e aos 11 anos sofri abuso sexual por parte do meu padrasto (que ainda é casado com minha mãe). Após anos de queda no rendimento escolar, agressividade, isolamento, ansiedade e também abusos físicos ( por parte dos dois), resolvi contar o que aconteceu. Ela, que acredito ser narcisista, me disse: " Isso é normal, já aconteceu comigo e acontece com todas as mulheres ". Me senti desamparada, principalmente pela minha genitora não ter empatia e normalizar o evento.

  • @simonebastos3590
    @simonebastos3590 Před 3 lety +14

    Essa pesquisa é fundamental. Nós, mães solo, estamos abandonadas, culpabilizadas, assediadas pelo estado e pela sociedade que só exigem.

  • @paulaptre
    @paulaptre Před 3 lety +16

    Que triste que muitas mulheres sintam que precisam engravidar pra serem aceitas, amadas, que gravidez, muitas vezes, não seja escolha, que as mulheres não tenham direito de abortar, que não recebam apoio da família, do Estado, do pai, por outro lado nada disso justifica negligência, violência física, psicológica, se não quer cuidar, não tem paciência, devia considerar entregar a criança pra que outra pessoa (homem ou mulher) cuide! Compreendo a violência que essas mulheres sofrem na infância, na gravidez, na maternagem, ainda mais se não podem contar com ajuda nenhuma, mas pra criança isso é muito mais pesado! e isso tudo se torna um ciclo de violência sem fim! É triste o quanto a mulher é responsabilizada por cuidar, de si, do outro, “temos que” dar conta até de escolhas que não são nossas!

  • @analarissamarqui6017
    @analarissamarqui6017 Před 3 lety +9

    Escola em período integral deve ser uma demanda constante no movimento de mulheres. Eu, como mãe solo me senti muito contemplada nessa live. Obrigada. Adorei.

  • @giselydamasceno4065
    @giselydamasceno4065 Před 3 lety +16

    De vez em quando eu tenho pesadelos em que eu tenho filho, preciso sair e não tenho com quem deixá-los.

  • @Atenais
    @Atenais Před 2 lety +4

    Estou cada dia mais apaixonada por este canal e pelo trabalho da Dra. Valeska. Gratidão profunda à ela e aos seus convidados, por compartilharem tanto conhecimento fundamental.

  • @rhaissadesouza3796
    @rhaissadesouza3796 Před 3 lety +7

    Pesquisa interessantíssima! O bom do canal da Valeska é que a gente vai cada vez mais se desconstruindo, refletindo sobre assuntos que permeiam nosso dia a dia e que nunca paramos para pensar. Normalmente só julgamos e condenamos, tudo e todos/todas, sem pensar no que está por trás das situações, dos discursos, das aparências ....

  • @sofiahelenasato6614
    @sofiahelenasato6614 Před 3 lety +9

    Obrigada, Valeska, por disponibilizar essa plataforma para todas essas pesquisas maravilhosas e torná-las mais acessíveis! Admiro muito seu trabalho.

  • @distaliati6303
    @distaliati6303 Před 3 lety +7

    Acompanho todas as suas lives Valeska , são assuntos super importantes e precisamos divulga-los. Eu sempre indico aos meus amigos. Obrigada a todos os participantes !!!

  • @sentaepensa
    @sentaepensa Před 3 lety +4

    Dra, você é fantástica! Estou amando demaisssss seus trabalhos! É um serviço pra sociedade! Parabéns!

  • @juliameirelles2144
    @juliameirelles2144 Před 3 lety +15

    Para essa cultura sexista mudar precisa começar a mudar a mentalidade dos homens... a começar pela participação nas tarefas domésticas, e das mulheres tb mudando essa idealização do relacionamento amoroso e da maternidade como símbolo da felicidade.

  • @bruxafedidatomaraque
    @bruxafedidatomaraque Před 3 lety +4

    Que importante ouvir as vozes dessas mulheres. O sistema de cuidado do Estado naturaliza um modelo de família e de maternidade que não se sustenta na realidade. A própria reforma psiquiátrica (incrível, realmente foi algo importante) e a passagem ao modelo CAPS pressupõe uma comunidade que participe dos processos que na prática acaba sempre se resumindo a uma mãe, uma esposa. As mães, muitas vezes sozinhas e em situações econômicas precárias é que terminam exaustas e sem uma existência própria, gerindo o cotidiano dos filhos e maridos pacientes psiquiátricos ou às vezes em recuperação de adicção (a "redução de danos" também é um caminho progressista e ótimo mas um campo em que se discute pouco a ultra responsabilização e mesmo a proteção - porque a agressividade é um elemento recorrente - às esposas, mães, filhos dos que estão em tratamento). E ai de uma mãe que não dê conta e não suporte o cotidiano sozinha com seu filho em surto recorrente e às vezes violento, que não dêem conta de experimentar as melhores combinações de medicamentos por conta própria pq os médicos várias vezes ignoram seus feedbacks sobre os efeitos colaterais e seu manejo no cotidiano, que pode ser mais difícil que o surto... Infelizmente mesmo nas políticas progressistas o trabalho de cuidado que deveria ser compartilhado com a comunidade ou o Estado ainda são naturalizados como uma carga feita pros ombros das mães, que não têm direito a escolher ser qualquer outra coisa, afinal, mulher não é gente quando é objeto sexual mas também não vira gente quando é mãe. A mãe ou é santa ou é bruxa. Isso tbm não é ser gente.

    • @steffisuarez
      @steffisuarez Před 2 lety

      caraca, sim! Obrigada por esse comentário!

  • @simonemiranda
    @simonemiranda Před 3 lety +1

    Que trabalho excelente! Parabéns! Obrigada! Sucesso a todos e a todas.

  • @MarciaHeyde
    @MarciaHeyde Před měsícem

    Eu concordo que uma disponibilidade de creches é parte importante da solução da maioria dos problemas citados, mas pra mim o que é gritante é a falta de amor dos pais pelos filhos.

  • @priscillasouza5472
    @priscillasouza5472 Před 2 lety +1

    Uma live melhor que a outra!! ❣️ Obrigada por tanto conteúdo! Sensacional..👏👏

  • @lucimara2042
    @lucimara2042 Před 3 lety +4

    Sou pedagoga, feminista e faço exercício diário para me tornar melhor ser humano. Reflexões são a base do meu dia a dia para esse exercício.
    Assistir essa live me causou um certo choque, já que em vários momentos refleti sobre ser mulher porém nunca havia pensado na questão da maternidade. É algo que realmente mexe com as ideias que a sociedade nós impõe tbm como mãe.

  • @patriciagjorge
    @patriciagjorge Před 3 lety +2

    cada live nova é uma alegria pro meu coração! tantos aprendizados

  • @JulianaCarminato
    @JulianaCarminato Před 3 lety +1

    Meu Deus, quanta verdade.

  • @niveas2332
    @niveas2332 Před 3 lety +1

    Essa live foi maravilhosa. Muito obrigada.

  • @elianerosa4400
    @elianerosa4400 Před rokem

    Nós comentários só tem mulheres, os homens correm de assuntos que não são do interesse deles( se insentam, para não ter que ser responsabilizar). Bora levar esses assuntos p dentro de casa, p dentro dos relacionamentos, dentro da família. Eles não vem aprender sozinho vão aprender do jeito que não gostam vendo nos mulheres se impondo. Fico ansiosa por novas lives suas. Gratidão ❣️❣️❣️

  • @carolptavares4275
    @carolptavares4275 Před 3 lety

    fantástico! saúde mental primeiro para a mae... mudar o enfoque!

  • @porto_madge
    @porto_madge Před 3 lety

    Excelente apresentação. Importantes achados de pesquisa. Parabéns!

  • @flaviasanz8509
    @flaviasanz8509 Před 3 lety +2

    Aaaaaaaa como eu amo

  • @paulaferreira3228
    @paulaferreira3228 Před 2 lety

    Eu gosto das estantes de livros! ❤️

  • @marianamoreira1726
    @marianamoreira1726 Před rokem

    Conheço uma mãe que ficou no hospício 20 anos porque eu não queria cuidar dos filhos. Anos 60.

  • @alinesanchezramirezbaruchi2658

    🤣🤣🤣🤣🤣 a Érica cresceu comigo.
    Ela tá aqui.
    Esquece o Samu.
    Ela ama a mãe.
    1975. Lembrem.

  • @L.Hodson
    @L.Hodson Před 11 měsíci

    Só quem cresceu/viveu com uma mãe borderline sabe o que é realmente isso.

  • @michelecastro8105
    @michelecastro8105 Před 3 lety +1

    Judiciário é tecnologia de gênero. A literatura é incipiente.

  • @Drikissima91
    @Drikissima91 Před rokem

    Zero acolhimento dessas mães. Apenas julgamentos e exigências cruéis. O sistema tem que mudar o quanto antes.

  • @jaimenanda
    @jaimenanda Před 3 lety

    Professora, onde posso buscar mais informações sobre o termo "mulheridade"?

  • @elianerosa4400
    @elianerosa4400 Před 2 lety

    😍😍😍 tudo isso tem no seu livro???

    • @valeskazanello7636
      @valeskazanello7636  Před 2 lety +3

      No meu livro eu falo disso tb, sobretudo do dispositivo materno e das tecnologias de gênero, bem como sobre a construção do ideal de maternidade. Agora os dados dessa pesquisa de mestrado da Aline foram publicados como artigos e capítulos de livro e estão todos disponibilizados no blog do nosso grupo de pesquisa “Saúde mental e gênero”. É só entrar lá e baixar! O livro tem para vender na Amazon! 😊

    • @elianerosa4400
      @elianerosa4400 Před 2 lety

      @@valeskazanello7636 😍 Já quero ❣️❣️❣️