O MATULÃO DE CHICO PEDROSA
Amigo, simples, solícito, pacato e honrado são alguns adjetivos que me socorrem, quando trato de definir o cidadão Francisco Pedrosa Galvão.
Falar em Chico Pedrosa é reverenciar um dos poetas populares mais entendidos da gente e dos costumes sertanejos de que tenho conhecimento.
Com uma verve surpreendentemente criativa e uma memória privilegiada, quando declama seus instigantes versos, o mestre sabe como ninguém começar um poema, dar-lhe sequência e arrematá-lo, para descrever Terra e Chão do nosso Sertão Caboclo.
As ideias que surgem das cavernas do juízo de Chico caem certeiras no matulão da nordestinidade, enchendo-o de hilariantes e magistrais causos. Neles, Pedrosa nos mostra, com Astúcia de Caboco, sua Infância com seus pais, as Presepadas de Menino, a sabedoria do Filósofo Zé Gogó, do Trocador de Cavalos e do Vendedor de Berimbau.
Esse saco contém, além de História de Caçador, O Barbeiro Desastrado, O Doido e Seu Ferro Velho, Bilisara Rezadêra, Belarmino do Tição, um Pilão de Pedra, um Catavento, uma Roda D’água, uma Maria Fumaça, A Rifa do Bode, A Besta do Velho Quinca, A Botija de Zé Duda, A Bomba de Zé Bernardo e até A Briga na Procissão. Ah! Nessa bolsa cabe também A Leveza dos Sonhos do vate que fala com A Voz do Coração, ao nos apresentar O Namoro das Flores.
São essas preciosidades e muito mais, que a Filosofia desse Caboclo e suas Fantasias enriquecem o imaginário popular, porque No Meu Sertão é Assim!
Que os poetas recitem e os admiradores escutem, leiam, deleitem-se e propaguem aos quatro ventos o talento e o saber do incomparável Chico Poeta Pedrosa Galvão!
Nosso grande poeta “abilolado”
Faz os versos fluírem facilmente
As piadas ouvidas, de repente
Se transformam num causo improvisado
No seu canto, o poema interpretado
Tem a força, o lirismo e a emoção
Do retrato mais puro do sertão
Revelado com rara maestria
Mestre Chico derrama poesia
Na ribeira do nosso coração.
Um menino fazendo presepada
Sua infância feliz junto dos pais
Vão ficar para sempre nos anais
Da poética perfeita e declamada
Acompanha também sua toada
Belarmino, o dentista, e seu tição
Tem Zabé lhe fazendo assombração
Zé Gogó cheio de sabedoria
Mestre Chico derrama poesia
Na ribeira do nosso coração.
Tem “Antõe” de Juvita imaginando
Ser soldado lutando no estrangeiro
Com a força tenaz de um guerreiro
Combatendo o inimigo e o derrotando
A figura de Hitler implorando
Ao matuto, clemência e compaixão
Tem a briga feroz na procissão
Com os santos causando gritaria
Mestre Chico derrama poesia
Na ribeira do nosso coração.
Tem São Braz, nosso “Santo Protetor”
Numa sala esquisita e muito escura
Apertando o botão da ditadura
Nos causando misérias e horror
Zé Cangalha, outro grande falador
Pra não ir para a guerra, sem razão
Fura um olho, se estrepa e cai no chão
Sua perna zambeta o denuncia.
Mestre Chico derrama poesia
Na ribeira do nosso coração.